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JUSTIÇA

Claudia Hoeckler é condenada a mais de 20 anos por matar e ocultar o corpo do marido em Lacerdópolis

29/08/2025 às 21:32

Um dos julgamentos mais longos e de maior repercussão dos últimos anos na região terminou com a condenação de Claudia Tavares Hoeckler a 20 anos e 24 dias de reclusão, em regime inicial fechado, pela morte do marido, Valdemir Hoeckler, de 52 anos. O crime ocorreu em novembro de 2022, na comunidade de Linha São Braz, interior de Lacerdópolis.

A sessão começou às 9h de quinta-feira (28) e se estendeu até as 20h34min desta sexta-feira (29), quando a juíza Jéssica Evelyn Campos Figueredo Neves anunciou a sentença no plenário da Câmara de Vereadores de Capinzal. Familiares e amigos da vítima e da acusada acompanharam o julgamento.

Na acusação atuaram os promotores de Justiça Rafael Baltazar Gomes dos Santos e Diego Bertoldi, além do advogado Álvaro Alexandre Xavier, como assistente. O Ministério Público sustentou a tese de homicídio duplamente qualificado, por meio cruel e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Já a defesa, formada por sete advogados — Matheus Molin, Jader Marques, Gabriela Bemfica, Casseano Barbosa, Tiago de Azevedo Lima, Eduardo Rebonatto e Guilherme Pittaluga Hoffmeister —, argumentou que Claudia foi vítima de violência doméstica durante os 20 anos de relacionamento e que o crime ocorreu nesse contexto.

O Crime

Segundo a investigação, na noite de 14 de novembro de 2022, Claudia dopou o marido, asfixiou-o com uma sacola plástica e, em seguida, escondeu o corpo dentro do freezer da residência. O cadáver permaneceu por cinco dias escondido entre alimentos, até ser descoberto pela polícia.

Ao longo do julgamento foram ouvidas 10 testemunhas de acusação e defesa, que relataram tanto episódios de violência no relacionamento quanto a frieza com que o crime foi executado. A repercussão do caso chamou a atenção em todo o Estado, principalmente pela forma como o corpo foi ocultado.

O Tribunal do Júri reconheceu a prática de homicídio qualificado por meio de asfixia, além dos crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

A condenação também incluiu o pagamento de 25 dias multa, com valor fixado de 1/30 do salário vigente no ano do crime.

Juíza Jéssica Evelyn Campos Figueredo Neves

O QUE DESTACOU O MINISTÉRIO PÚBLICO DE SC

Após dois dias de julgamento, mulher que matou o marido e escondeu o corpo no freezer em Lacerdópolis é condenada a mais de 20 anos de prisão

Os Promotores de Justiça desmontaram a narrativa de que a ré sofria violência doméstica e os jurados acolheram integralmente as teses sustentadas por eles, condenando a mulher por homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

A mulher que dopou e asfixiou o marido Valdemir Hoeckler, de 52 anos, em 14 de novembro de 2022, em Lacerdópolis, escondeu o corpo no freezer, foi confraternizar com amigas e, mais tarde, registrou o desaparecimento e ajudou nas buscas, foi condenada a 20 anos e 24 dias de prisão, em um dos julgamentos mais aguardados de Santa Catarina. Ela foi reconduzida ao presídio para cumprir a pena assim que a sentença foi lida e não poderá recorrer em liberdade.

A sessão do Tribunal do Júri aconteceu na Câmara de Vereadores de Capinzal, cidade-sede da comarca, com base na denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), e teve dois dias de duração. Os trabalhos iniciaram às 9h de quinta-feira (28/8), com o sorteio dos jurados, foram interrompidos às 23h, quando a ré passou mal, recomeçaram às 8h30 de sexta-feira (29/8), com um interrogatório de três horas, e só terminaram às 20h35, com o choro de alívio de quem esperava por justiça. 

Os jurados acolheram integralmente as teses sustentadas pelos Promotores de Justiça Rafael Baltazar Gomes dos Santos, de Concórdia, e Diego Bertoldi, de Videira, reconhecendo os crimes de homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

O julgamento foi marcado por comoção, tensão e debates acalorados entre a acusação e a defesa. Familiares da vítima e da ré dividiram o plenário vestindo camisetas com pedidos, respectivamente, de condenação e absolvição. Cerca de 25 policiais fizeram a segurança do local, incluindo três agentes da Coordenadoria de Inteligência e Segurança Institucional (CISI) do MPSC. A rua foi fechada para o tráfego de veículos durante a sessão.

Os Promotores de Justiça levaram o freezer, as cordas e o pano usados no crime para ilustrar a crueldade empregada pela ré. "Hoje o Ministério Público de Santa Catarina é a voz da vítima. Estamos aqui para mostrar a verdade e impedir que o direito das mulheres seja instrumentalizado para justificar um ato tão brutal", disse Diego Bertoldi.

Eles também apresentaram provas colhidas durante as investigações, como áudios enviados pela ré ao marido após o crime para tentar criar um álibi. "Policiais, Bombeiros e moradores foram mobilizados durante cinco dias para ajudar nas buscas, sendo que ela sabia onde o corpo estava", disse Rafael Baltazar Gomes dos Santos.

Questões relacionadas a dinheiro também foram trazidas à tona, como o fato de a mulher ter perguntado para um familiar do marido se ele tinha seguro de vida e de ter tirado dinheiro da conta bancária dele para pagar os advogados de defesa.

A defesa da ré tentou a absolvição sustentando a tese de que a cliente sofreria violência doméstica, e apresentou um único boletim de ocorrência de 2019 em que ela teria sido ameaçada pela vítima. Na época, a mulher admitiu que jamais havia sido agredida fisicamente pelo marido e, dias depois, retirou a queixa.

Na réplica, os dois Promotores de Justiça fizeram questão de reforçar que se deparam com muitas situações de violência doméstica, mas que o homicídio cometido pela ré não ocorreu por consequência disso.

A ré optou por não assistir a sustentação dos Promotores de Justiça nem a leitura da sentença. Ela tem outros antecedentes criminais.

Relembre o caso

A rotina do pequeno município de Lacerdópolis mudou para sempre em 19 de novembro de 2022, quando o corpo de um homem dado como desaparecido há cinco dias foi encontrado pela Polícia, congelado dentro do freezer da própria casa, embaixo de alimentos e bebidas, com os pés e mãos amarrados. O fato chocou os pouco mais de 2.200 moradores, que não viam um homicídio há 30 anos e aguardavam ansiosos por notícias.

No mesmo dia em que o corpo foi encontrado, a esposa publicou um vídeo nas redes sociais confessando o assassinato, sob a alegação de que sofria violência doméstica. Porém, as evidências apontaram para outra direção, afinal, pessoas próximas relataram que o casal convivia harmoniosamente, e mensagens trocadas pelo casal corroboravam o fato.

Na época, a mulher foi denunciada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) por homicídio, qualificado pelo recurso que dificultou a defesa da vítima e por asfixia, pois ela teria dopado o marido com medicamentos de rotina para que ele dormisse, amarrado os pés e as mãos para que não se mexesse e colocado uma sacola plástica na cabeça para que parasse de respirar e morresse.

Ela também foi denunciada pelos crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica, pois escondeu o corpo e ainda comunicou às autoridades sobre o desaparecimento do marido para confundir as investigações. Ela foi presa preventivamente após confessar o crime, depois ganhou o direito de responder ao processo em liberdade, mas voltou para a prisão em maio deste ano graças a um recurso especial interposto pelo MPSC.

Durante o julgamento, dez testemunhas foram ouvidas. Entre elas, um amigo da vítima que estranhou o volume existente dentro do freezer quando a ré abriu a tampa para pegar água para os bombeiros que faziam as buscas, e o Policial Militar que seguiu a pista e encontrou o corpo embaixo dos mantimentos. Ambos se emocionaram ao relembrarem que procuraram pela vítima durante vários dias, sendo que ela estava dentro da própria casa.

Valdemir convivia com a ré há 23 anos e havia formalizado a união com ela há 40 dias. Ele deixou a mãe, filhos, irmãos e netos.

Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC - Correspondente Regional em Lages

O QUE REPORTOU O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SC

Júri condena mulher a 20 anos de prisão por matar o marido e ocultar corpo em freezer 

Público enfrentou filas para acompanhar sessão nos dois dias de julgamento 

O Tribunal do Júri da comarca de Capinzal condenou nesta sexta-feira, 29 de agosto, uma mulher a 20 anos e 24 dias de prisão, em regime fechado, com cumprimento imediato da pena, pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. O caso, ocorrido em novembro de 2022 no município de Lacerdópolis, ganhou grande repercussão pela gravidade dos fatos e pelas circunstâncias da ocultação do corpo da vítima, que foi escondida dentro de um freezer.

A sessão teve início às 9 horas de quinta, dia 28, e se estendeu até por volta das 22h30min, quando foi suspensa. Os trabalhos recomeçaram às 8h30min desta sexta-feira, dia 29, em um dos mais longos júris já registrados na região. A sentença foi lida pela juíza por volta das 20h45min de hoje. Foram mais de 25 horas de júri.

Desde cedo, nos dois dias, dezenas de pessoas aguardavam em fila diante da Câmara de Vereadores, local onde o julgamento foi realizado. Familiares da vítima e da acusada, além de integrantes da comunidade, permaneceram no espaço durante todo o julgamento e acompanharam atentamente os trabalhos.

Diante da grande movimentação, as equipes de segurança foram reforçadas para atuar tanto no entorno da Câmara de Vereadores como no interior do plenário, a fim de garantir a tranquilidade dos presentes e o bom andamento da sessão.

Ao todo, 12 testemunhas haviam sido relacionadas para estarem presentes e serem ouvidas, porém duas não compareceram. O interrogatório da ré iniciou na noite do primeiro dia de julgamento. Ela não se sentiu bem, foi atendida pelo corpo de bombeiros e retornou ao plenário nesta sexta para conclusão do interrogatório.

Os debates entre acusação e defesa iniciaram à tarde. Ambas ocuparam integralmente seu tempo de uma hora e meia, com posterior réplica e tréplica. O Ministério Público, autor da ação penal, levou o freezer utilizado para ocultar o cadáver ao centro do salão de debates, defronte ao corpo do júri. Após a leitura dos quesitos, os sete jurados - quatro mulheres e três homens – votaram secretamente.

O júri reconheceu a materialidade e as qualificadoras de asfixia e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, além da ocultação de cadáver e falsidade ideológica. A juíza Jéssica Evelyn Campos Figueredo Neves leu a sentença com o plenário ainda cheio. A pena foi fixada em 20 anos e 24 dias de reclusão. Cabe recurso ao Tribunal de Justiça.

Relembre o caso

De acordo com os autos, a ré matou o marido após induzi-lo ao sono com medicamento, amarrar-lhe os pés, pernas e braços com cordas e asfixiá-lo com uma sacola, impossibilitando qualquer reação de defesa. Em seguida, ocultou o corpo em um freezer horizontal na residência do casal.

No dia seguinte ao fato, registrou boletim de ocorrência comunicando falsamente o desaparecimento do companheiro, o que mobilizou vizinhos, amigos e forças de segurança em buscas que se prolongaram por cinco dias até a localização do corpo.

Imagens: Fabrício Severino/TJSC - Conteúdo: NCI/Assessoria de Imprensa

A Ré saiu do Fórum de Capinzal algemada ao centro de dois policiais carcerários

Mário Serafin / Fonte: Rádio Capinzal, MPSC e TJSC