23/06/2025 às 15:25
Por Henry Uliano Quaresma
A Região Oeste Catarinense é, sem dúvida, uma das áreas mais produtivas e empreendedoras do Estado. Totalizando 118 municípios — entre eles Chapecó, Pinhalzinho, Concórdia, Caçador, Xanxerê, Videira, Joaçaba, Fraiburgo, Curitibanos, Seara, Palmitos, Maravilha, São Miguel do Oeste, Itapiranga e Dionísio Cerqueira — esse vasto território consolidou-se como referência nacional e internacional pela força da agroindústria, pela diversidade da base produtiva e pela resiliência de seu povo.
Contudo, tal protagonismo contrasta com uma realidade que se arrasta há décadas: a precariedade da infraestrutura. A região convive com o maior custo logístico de Santa Catarina — R$ 0,14 por real faturado, enquanto a média estadual é de R$ 0,11, conforme dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC). A expressão “abandono crônico”, empregada recentemente em um artigo por Neivor Canton, presidente da Aurora Coop, retrata com precisão o sentimento regional diante das deficiências estruturais que comprometem a competitividade e ameaçam a manutenção dos investimentos.
A contribuição econômica do Oeste é significativa e inquestionável. Em 2021, seu PIB superou R$ 71,6 bilhões, representando 16,7% da economia catarinense. Em 2023, a indústria regional manteve vigor em sintonia com o desempenho estadual: foram geradas cerca de 3,8 mil vagas industriais, em um total de 62,7 mil novos empregos formais. Já no primeiro semestre de 2024, o setor industrial respondeu por quase metade das novas contratações — aproximadamente 47,7 mil vagas, num universo de 95,4 mil postos criados. Além disso, a agroindústria — orgulho do Oeste — impulsionou as exportações catarinenses: em 2024, o agronegócio estadual exportou US$ 7,57 bilhões, equivalentes a 64,9% dos US$ 11,7 bilhões em vendas externas de Santa Catarina. Esses números confirmam que o Oeste continua sendo peça-chave na engrenagem industrial e exportadora do Estado e do Brasil.
A história regional é marcada por superação
Colonizada no início do século XX, após a Guerra do Contestado, recebeu levas de imigrantes italianos e alemães vindos do Rio Grande do Sul. Com eles veio a tradição de processar carne, que gerou os primeiros frigoríficos e, mais tarde, a estrutura cooperativista que hoje sustenta gigantes como Aurora, BRF, Cooperalfa e Copercampos. A logística sempre foi um obstáculo — e, mesmo assim, a determinação empresarial e comunitária transformou o Oeste em líder mundial em proteína animal.
O que muitos ainda não percebem é que o Oeste vai além da produção de carne. A região desponta como importante polo madeireiro e moveleiro, com Caçador e Curitibanos em evidência. É referência nacional em fruticultura e vitivinicultura, com Fraiburgo e Videira liderando a produção de maçãs e vinhos de alta qualidade. Em Joaçaba, Caçador e Herval d’Oeste, o setor coureiro assume papel estratégico, abastecendo mercados europeu e asiático. Joaçaba e Caçador também brilham no segmento de celulose e papel, com plantas consolidadas e em expansão. Já o setor metalmecânico e de máquinas agrícolas cresce de forma consistente em Chapecó, Seara, Xanxerê e Pinhalzinho, evidenciando a força e a diversidade econômica locais.
A indústria de plásticos e embalagens técnicas, presente em Chapecó, Joaçaba e Videira, complementa a cadeia agroindustrial com soluções de alto valor agregado. Essa diversificação está entre os maiores ativos do Oeste, garantindo estabilidade econômica e atraindo novos empreendimentos — desde que existam condições para crescer.
Gargalos na infraestrutura
Outro ponto fundamental para o desenvolvimento regional é a melhoria da infraestrutura aeroportuária. O fortalecimento e a modernização dos aeroportos regionais são cruciais para ampliar a conectividade aérea, viabilizando a chegada de mais voos e reduzindo os tempos e custos de deslocamento. A ampliação das rotas comerciais e a melhoria na estrutura de embarque e desembarque contribuirão diretamente para a atração de investimentos, a dinamização do turismo de negócios, o fortalecimento da logística de alto valor agregado e a maior integração com os centros econômicos do país. Investir nos aeroportos é acelerar o ritmo de crescimento da região e conectá-la, com mais eficiência, ao restante do Brasil e ao mercado global.
E é justamente aí que reside o maior entrave: a infraestrutura. A BR-282, principal ligação entre o Oeste e os portos litorâneos, mantém longos trechos em pista simples, mal sinalizados e sobrecarregados. Obras essenciais seguem travadas. Falta acesso ao gás natural, e começam a surgir problemas sérios de abastecimento de água e saneamento em diversas cidades. A ausência de soluções estruturantes compromete não apenas a expansão industrial, mas também o bem-estar das populações urbanas.
A esperança desponta no projeto ferroviário Chapecó–Correia Pinto, que promete conectar os principais centros industriais do Oeste à malha nacional e aos portos catarinenses. A expectativa é reduzir em até 30% os custos logísticos de cargas como carne congelada, celulose, plásticos e equipamentos, além de ampliar a sustentabilidade do transporte, com menor emissão de CO?. O impacto seria profundo e duradouro, mas o avanço depende de execução urgente.
Somam-se a isso as perspectivas de integração de Chapecó à Nova Ferroeste, por meio do ramal até Cascavel, configuração estratégica para transformar a logística do Oeste. Com previsão de 263 km, essa ferrovia poderá baratear significativamente o transporte dos insumos que vêm da região Centro-Oeste e facilitar o escoamento da produção agroindustrial. Chapecó tem potencial para tornar-se um hub logístico regional, ampliando a competitividade e a capacidade de atrair investimentos. No entanto, embora o cronograma preveja início de operação até 2044, será imprescindível um esforço de articulação política, técnica e institucional, bem como a mobilização de grandes investimentos — sobretudo internacionais — para viabilizá-la.
Compromisso com o interior produtivo
Diante desse cenário, é hora de Santa Catarina assumir um compromisso efetivo com seu interior produtivo. Propõe-se, portanto, a implementação de ações estruturadas de desenvolvimento regional que reúna poder público, setor privado, universidades e entidades de classe. Tais ações devem priorizar o diagnóstico dos gargalos, estabelecer uma carteira clara de projetos estruturantes e garantir financiamento estável, com governança profissional.
Urge também fortalecer a atração de novos investimentos, focando os elos faltantes nas cadeias produtivas para agregação de valor em produtos já produzidos. Missões empresariais, parcerias internacionais e incentivos à inovação tecnológica devem compor o plano, posicionando o Oeste como um hub de competitividade e sustentabilidade.
O Oeste de Santa Catarina já demonstrou capacidade de produzir, inovar e competir com os melhores do mundo. Chegou, contudo, a hora de avançar. A infraestrutura não pode mais ser um freio. Com planejamento, investimentos estratégicos e articulação institucional, o “Grande Oeste” pode dobrar sua participação na economia estadual, gerar mais empregos de qualidade e consolidar-se como um dos principais polos industriais e agroindustriais da América Latina.
(*)Henry Uliano Quaresma é CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais. Foi Diretor Executivo na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), onde participou ou coordenou mais de 90 missões empresariais internacionais em mais de 50 países. Atuou profissionalmente em universidades como professor, em indústrias e governo. É engenheiro, possui MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, especialização em Marketing pela FGV e concluiu Programas Executivos em Estratégia e Gestão pela Wharton School (EUA) e pela INSEAD (França). É autor de artigos e livros, destacando-se o livro “O Fator China: Oportunidades e Desafios” (2024), obra consolidada como referência na área empresarial. henry@brasilbp.com.br
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